O diálogo é um exercício que se aprende desde criança. Crescemos e aprendemos que a comunicação é mais do que acessória, ela é um direito básico do ser humano e condição para a democracia. Por isso, não basta o acesso à informação e o combate à censura, mas é necessário criar condições para garantir que todos possam comunicar. Essa é a comunicação como um direito. E este é um convite para refletir a comunicação enquanto um dever.
Temos o dever de comunicar quando a sociedade necessita: para garantir a ordem, o bem estar, os direitos humanos e tudo o que venha a trazer benefícios para a coletividade. Desde 2005, uma iniciativa em Belém do Pará tem contribuído para sensibilizar, quebrar o silêncio e incentivar o diálogo contra a exploração sexual de crianças e adolescentes.
A campanha
A campanha
O silêncio diz muita coisa, e muitas crianças e adolescentes têm sido silenciados pela violência da exploração sexual. Para evitar esse silêncio e o de quem pode falar, mas não denuncia, a campanha “Exploração Sexual – Estamos de Portas Fechadas” se lançou em um dos setores onde esse tipo de crime acontece: o turismo.
A campanha, que tem como principal objetivo prevenir a exploração sexual de crianças e adolescentes, é voltada para os hotéis e outros setores que formam a rede de turismo no Pará. É fruto de uma parceria entre a Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH-PA) e o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA-Emaús), de Belém-PA.
Avaliada como uma das piores formas de trabalho infantil, a exploração sexual de crianças e adolescentes é também considerada crime pela legislação brasileira, que pune quem pratica, facilita ou atua como intermediário. Mas é na prevenção que a campanha “Estamos de Portas Fechadas” atua: convidando os hotéis e demais estabelecimentos ligados ao turismo a participarem da iniciativa; formando o quadro de pessoal dos hotéis que já aderiram para identificarem e procederem nas situações de exploração; estabelecendo um Código de Conduta para orientar os que participam e um constante monitoramento das suas ações; e, futuramente, certificando os estabelecimentos que apresentarem conduta exemplar no turismo sustentável e na defesa dos direitos humanos.
Nesse sentido, as pessoas e empresas do setor turístico, por terem grandes chances de ficarem expostos a esse tipo de crime, podem trabalhar como multiplicadores dos princípios de defesa dos direitos da criança e do adolescente. “A ideia é de que a gente possa, no futuro, utilizar a rede do turismo como uma grande rede de proteção”, afirma Carlos Freire, presidente da ABIH-PA.
Referência
Referência
No final de agosto, foi lançada a segunda fase da campanha que já é considerada um modelo no turismo sustentável e direitos humanos. O olhar diferenciado para o tema foi decisivo para o sucesso da iniciativa: a sensibilização promovida permite que seja considerado todo o contexto do problema, visto como resultado de uma série de implicações que devem ser consideradas. Assim, quem antes ficava alheio à exploração sexual passa a se sentir também um responsável pela sua prevenção.
Pensada para atender uma demanda local, ou seja, de Belém que não está no topo dos destinos turísticos onde mais ocorre esse tipo de crime, a campanha repensou as peças publicitárias destinadas ao setor turístico de forma geral e tirou o foco da denúncia e punição para centralizar na sensibilização e prevenção.
Para chamar atenção para a importância do diálogo e da comunicação, dá abertura para que se forme uma rede de proteção, e não apenas um modelo de campanha que vem “do alto”, de quem conhece o tema de forma profunda e/ou produz o material comunicativo para um público não considerado nas suas especificidades. Nesse sentido, a campanha não só vai além desse modelo amplo de abordagem, mas também ultrapassa a abordagem superficial que a mídia de forma geral dá a esse tipo de assunto: “Ela [a mídia] dá uma ênfase muito grande [em determinados casos], mas não levanta uma discussão na sociedade: quais são as alternativas? Quem está fazendo o quê? Como fazer para que isso não volte a se repetir?”.
Hoje, além da parceria inicial entre CEDECA-Emaús e ABIH-PA, o movimento conta também com a parceria de organizações como o Instituto Criança Vida, o Pro Paz (Governo do Pará) e o Ministério Público do Trabalho.
Texto: Élida Cristo
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