“Movimentos de ‘contravenção’ social”. Esse foi o tema do quinto e último painel de discussões da programação do Mídia Cidadã 2011, coordenado pela professora Ariane Pereira, diretora da Rede Brasileira de Mídia Cidadã. O Coletivo Puraqué, da cidade de Santarém (PA), e o Movimento Hip-Hop Organizado do Pará estiveram presentes no painel. O uso da mídia como meio de promoção da cidadania e de fortalecimento da cultura popular foi um dos pontos dicutidos. A tônica desses movimentos é o ativismo midiático. Ambos são movimentos de contravenção, contestação de um modelo hegemônico de comunicação.
O Coletivo Puraqué, representado por Jader Gama, fundador do movimento, atua em função da inclusão digital e da educação ambiental de populações que não tem vez nem voz na grande mídia, como as comunidades quilombolas e indígenas. Com o objetivo de propiciar a formação técnica dos membros das comunidades em que atua e fomentar a construção de uma comunicação realmente comunitária, o projeto oferece cursos e oficinas de cultura digital. É nesses espaços públicos de ensino/aprendizagem que as comunidades se apropriam das ferramentas de comunicação digital, compreendem o funcionamento e montagem do computador, programam computadores a partir de softwares livres e produzem, em plataformas multimidiáticas, conteúdos relativos às questões ambientais e populares, como o desenvolvimento sustentável e a economia solidária. Em suma, o que se pretende com o uso da tecnologia, de ferramentas digitais e softwares livres, é a construção de uma comunicação cidadã, que atenda as demandas e os interesses dessas populações e proporcione o bem comum.
Marcos Hayden, integrante do Movimento Hip-Hop Organizado do Pará, apresentou o movimento como um símbolo de contravenção de um modelo hegemônico, tradicionalmente instituído, de comunicação e de contestação dos desvios políticos e das injustiças sociais. O hip-hop é um movimento sóciocultural e também uma forma alternativa de comunicação, de reação aos mais diversos problemas sociais: corrupção, machismo, homofobia etc. É uma cultura que tem seu berço nas ruas da periferia, geralmente marginalizada nos meios de comunicação de massa.
Ao contrário de como é representado em grande parte dos casos na grande mídia, pejorativa e preconceituosamente, o movimento hip-hop é uma cultura engajada que desenvolve ações e projetos sociais destinados, sobretudo, a crianças e adolescentes. O movimento já trabalhou, por exemplo, com programas educativos e culturais voltados a menores infratores da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará (FUNCAP). Marcos destacou que o movimento hip-hop atua, não na apologia ao crime ou às drogas, como é dito e mostrado geralmente na mídia hegemônica, mas na conscientização da população, na formação de uma consciência crítica, solidária e cidadã, por meio da arte e da cultura. A linguagem do hip-hop, combativa e organizada, prega não a conformação, mas a libertação. A transmissão de valores positivos, como a paz social, a defesa dos direitos humanos e da cidadania são marcas do movimento. “A valorização do ser humano e da vida”, segundo Marcos Hayden, é a ideologia e o sentido original do movimento.
Texto: Pedro Fernandes